Wednesday, October 15, 2008

voar...


Apetecia-lhe voar. Apetecia-lhe tanto agarrar o sol. Apetecia-lhe ser ave.
Poder enfrentar abismos com os olhos fechados.
E porque não cortar o céu com o seu corpo ardente de paixão?
Queria saltar muros altos sem medos de aterrar cansado.
Queria navegar mar alto sem risco de não encontrar o caminho de volta.
Queria falar sorrindo e calar sempre que consentisse.
Sem sim, sem não, só com a voz dos olhos, queria voar.
E foi buscar as asas ao armário. Limpou-as com carinho.
Deu-lhes lustre com algumas lágrimas de outros tempos e saiu para a montanha na esperança última de ser cativado por algum anjo azul.
Face ao inesperado foi ave.
E com as suas asas feitas novas, voou sem medo de não encontrar o caminho de volta.
Disse, sorriso aberto, enquanto voava: na vida não existe volta, só ida.
Se tivesse percebido mais cedo, já tinha voado antes.

( Dizer-te, Ana Teresa Silva)

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