Há sonhos simpáticos. Daqueles que nos querem ser agradáveis. Acordamos por qualquer motivo e, quando tornamos a adormecer, eles continuam a desenrolar-se a partir do ponto de interrupção. São raros esses sonhos. Mas aconteceu-me há dias. Sonhei com uma pessoa que conheci numa hora certa da minha vida. Memória já guardada neste baú. Visitou-me com aquele seu ar atrevido, por vezes tão desconcertante, o brilho no olhar seguro, o sorriso travesso, o humor de fino recorte, o “mundo” e o saber de quem, aos quarenta anos, parecia ter vivido muitos mais. Foi um sonho bonito, de cenários que recordo com a tranquilidade de um passado resolvido, de pulsões já aquietadas na bruma da realidade onírica. Um sonho sem situações caricatas, absurdas ou fantásticas. Foi apenas um reencontro terno e risonho com alguém que, numa curva do meu caminho, me mostrou a recta que se abria à minha frente. E que, como sempre acontecia, acabou com o Morgan a afastar-se, deixando-me no ouvido a voz singular e as notas do piano de Wim Mertens.
Mitsou (No Baú da Vida)
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