Monday, January 29, 2007

A Pluma Caprichosa


E o destino passa por mim como uma pluma caprichosa

passa pelos olhos dum gato

como o avião passa no céu do camponês

como a cidade passa pelo convalescente

que sai pela primeira vez

Nos olhos da mulher que não perdi nem ganhei

Nos olhos que durante um segundo me compreenderam

e amaram

na sua ternura quase insuportável

O destino passa

No amigo que é lentamente puxado para o outro lado

da razão
e um dia mergulha na sombra que trazia em si por

resolver

o destino cumpre-se e passa

na praia nocturna que as ondas visitam e deixam

como as imagens que sem cessar me assaltam e

abandonam

na espuma que esmago contra a areia muito fina

na mulher que me acompanha e comigo se perde na

noite

nos soluços de luz verde que um farol nos envia

o destino detém-se e passa

Na inesperada hora de felicidade

Vivida um pouco a medo

Como os amantes quando percorrem as ruas desertas

dum jardim

Um pouco a medo

Como a breve noite de amor em que um homem se

encontra e refugia

O destino demora-se e passa

Estou onde não devia estar

Mas basta

basta

basta (...)


Alexandre O'Neill

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