E o destino passa por mim como uma pluma caprichosa
passa pelos olhos dum gato
como o avião passa no céu do camponês
como a cidade passa pelo convalescente
que sai pela primeira vez
Nos olhos da mulher que não perdi nem ganhei
Nos olhos que durante um segundo me compreenderam
e amaram
na sua ternura quase insuportável
O destino passa
No amigo que é lentamente puxado para o outro lado
da razão
e um dia mergulha na sombra que trazia em si por
resolver
o destino cumpre-se e passa
na praia nocturna que as ondas visitam e deixam
como as imagens que sem cessar me assaltam e
abandonam
na espuma que esmago contra a areia muito fina
na mulher que me acompanha e comigo se perde na
noite
nos soluços de luz verde que um farol nos envia
o destino detém-se e passa
Na inesperada hora de felicidade
Vivida um pouco a medo
Como os amantes quando percorrem as ruas desertas
dum jardim
Um pouco a medo
Como a breve noite de amor em que um homem se
encontra e refugia
O destino demora-se e passa
Estou onde não devia estar
Mas basta
basta
basta (...)
Alexandre O'Neill
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